A origem dos jogos de azar: de Keno à legalização no Brasil e o porquê as apostas viciam
Os primeiros registros de loterias datam dos cartões Keno, criados pelos chineses da Dinastia Han entre 205 e 187 a.C. Diz-se que essas loterias contribuíram para o financiamento de grandes projetos governamentais, como a construção da Muralha da China. Embora com propósito àquela época, as apostas viciam desde sempre.
No Brasil, a prática de apostas foi legalizada em 1934 pelo então presidente Getúlio Vargas, permitindo também os jogos de azar e marcando o início da era dos cassinos no país. Durante esse período, os cassinos fomentaram o turismo e impulsionaram a economia, gerando milhares de empregos e atraindo visitantes de todo o mundo.
A casa de apostas mais antiga do mundo, chamada Intertops, foi criada em janeiro de 1996 por um finlandês.
Por que as apostas viciam?
Os jogos de apostas estimulam, geram adrenalina e oferecem gratificação, ativando o sistema de recompensa do cérebro. Esse ciclo já ocorria nos cassinos tradicionais, com destaque para caça-níqueis, bingos e o famoso jogo do bicho.
Acessibilidade e a epidemia de apostas
Hoje, a facilidade de acesso transformou o cenário. As novas modalidades de jogos de azar, como o jogo do Tigrinho e as “apostas esportivas”, estão disponíveis 24 horas por dia. A ausência de barreiras físicas ou sociais, como o deslocamento até uma casa de apostas e a exposição pública, somada à falta de controle sobre a faixa etária, intensificou o problema.
A ilusão de controle nas apostas esportivas
As “apostas esportivas” também trazem muitos riscos. Conversas de bar se tornaram jogo, e a falsa sensação de controle sobre o esporte encoraja o apostador.
Leonardo Carriço Apostolatos, médico psiquiatra do Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos do Impulso (Pro-Amiti) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, alerta: “Quando falamos desse tipo de jogo, precisamos lembrar que toda aposta estipulada pelo site envolve cálculos complexos feitos por especialistas. Por se tratar de probabilidades, a aleatoriedade está sempre presente. Assim, mesmo que o jogador tenha profundo conhecimento sobre o jogo, pode surgir a falsa sensação de controle, o que estimula o comportamento aditivo”.
Dados alarmantes sobre o impacto das apostas
Os dados são preocupantes. Segundo o Instituto DataSenado, 42% dos apostadores brasileiros estão inadimplentes. Brasileiros com renda familiar de até dois salários mínimos são os mais frequentes nas apostas mensais, com atrasos superiores a três meses no pagamento de contas.
Mais de 20 milhões de brasileiros com mais de 16 anos admitem já ter apostado nas “bets”, representando 13% da população dessa faixa etária. A pesquisa, que entrevistou quase 22 mil pessoas, também revelou que, entre os beneficiários do Bolsa Família, mais de 5 milhões apostam mensalmente em casas de apostas virtuais, gastando mais de 3 bilhões por mês. Esse valor equivale a 20% do total repassado pelo programa.
Leia mais sobre a pesquisa do instituto dataSenado: https://www.cartacapital.com.br/economia/bets-e-dividas-42-dos-apostadores-brasileiros-estao-inadimplentes-diz-pesquisa/
Leia mais sobre o vício nas ‘bets’ aqui: https://drauziovarella.uol.com.br/psiquiatria/bets-quando-apostar-vira-um-vicio/